O Natal é uma época de reencontros, recordações e introspeção. Com o inverno a envolver-nos em momentos de maior recolhimento, sentimos a nostalgia da infância e a proximidade das nossas famílias. É uma altura ideal para refletir sobre um tema tão profundo quanto essencial: o perdão.
Nesta altura, marcada por uma menor vitalidade física e emocional, somos desafiados a cuidar da nossa saúde integral. O perdão surge, aqui, como um pilar fundamental. Nas consultas que realizo, noto que muitas pessoas procuram melhorar a sua energia e proteger-se de influências negativas. O perdão é, sem dúvida, um dos caminhos mais poderosos para libertar o campo energético e promover o bem-estar. Muitas vezes, a falta de perdão mantém-nos presos ao passado, a pessoas e a situações que enfraquecem a nossa energia. Vamos explorar este tema.
Perdoar não é esquecer ou negar o que aconteceu, mas um processo consciente e cognitivo que requer compreender as razões por detrás dos acontecimentos. Para perdoar, é necessário um propósito claro: romper o ciclo de mágoas e evitar que a situação se repita. Sem compreender a importância do perdão, torna-se difícil oferecê-lo a alguém.
Acredito que, para quem já entrou no paradigma consciencial, o processo de perdão pode ser mais lúcido. Isto porque compreendemos que a nossa história não começa nesta vida. Muitos dos relacionamentos desafiadores de hoje refletem interligações de vidas passadas, onde laços familiares oferecem oportunidades de reconciliação e evolução.
Perceber que há uma causa para tudo e que o processo é, acima de tudo, uma aprendizagem ajuda a iniciar uma autopesquisa mais lúcida e a observar os factos sob a perspetiva da evolução da consciência.
O perdão depende exclusivamente de nós. Requer que compreendamos as relações que nos afetam negativamente, e que tenhamos como objetivo superar as marcas que nos prendem a essas situações. É essencial identificar as forças que nos levaram a viver essas experiências e reconhecer as vulnerabilidades da nossa energia. Que histórias estão por detrás disso?
Perdoar é, portanto, uma escolha pessoal. Trata-se de compreender o que nos fragilizou, aprender com isso e seguir em frente. Não depende do outro reconhecer o erro, mas sim da nossa capacidade de superar as vulnerabilidades que nos colocaram naquela situação.
No paradigma consciencial, entendemos que as pessoas com quem nos relacionamos refletem histórias de vidas passadas. Não nos cruzamos pela primeira vez com ninguém. Essa perceção de que a vida nos junta com consciências com as quais já tivemos algum tipo de contato ou emaranhamento, facilita a abertura para a ideia de que há sempre uma aprendizagem por detrás das relações. Ao perdoar, rompemos com ciclos inconscientes de repetição.
Hoje sabemos que há um forte impacto emocional por detrás de muitas doenças. Guardar ressentimentos e mágoas pode ter consequências graves para a saúde, como doenças cardíacas, dores crónicas e stress. Libertar essas emoções negativas e curar as feridas emocionais é essencial para o equilíbrio do corpo e da mente.
Perdoar é alcançar serenidade. Pensar numa situação ou pessoa sem sentir mágoa ou raiva é sinal de um perdão genuíno. Ignorar ou suprimir o problema não é perdoar, mas apenas adiar o enfrentamento e a superação. Sabemos então que perdoamos quando, ao falar do acontecimento, nenhuma emoção negativa surge em nós.
Esperar que o outro peça desculpa é cair na armadilha da vitimização. O perdão liberta-nos do passado, permitindo-nos avançar sem dependências emocionais. Ao perdoar, respeitamos as limitações do outro, mas, acima de tudo, protegemo-nos.
Perdoar é um ato de autossuperação. Respeitar o nível evolutivo de quem nos magoa não significa aceitar abusos, mas aprender a estabelecer limites saudáveis que preservem a nossa paz de espírito.
Mais do que um conceito religioso ou filosófico, o perdão deve ser visto como uma prática terapêutica. Falar sobre as mágoas, procurar ajuda profissional e abrir-se ao diálogo são passos fundamentais para alcançar o equilíbrio emocional. Quando externalizamos as nossas dores, começamos a compreendê-las e a reduzir o seu impacto. É a partir dessa compreensão que conseguimos perdoar e romper com o sofrimento.
Ao perdoar, libertamo-nos da carga do passado e ganhamos a leveza para viver com serenidade. Perdoar é, em última instância, um ato de inteligência: um caminho para a saúde, a paz e a evolução pessoal.
Que este Natal seja um momento de reflexão, de perdão e de renascimento para todos nós.
Com carinho,
Patrícia
Artigo publicado na Revista Espaço Aberto em dezembro de 2024.