Hoje convido-te a refletir sobre um tema essencial no caminho do autoconhecimento: a criança interior. Explorar este conceito é fundamental para alcançarmos equilíbrio emocional e psicológico, tornando-nos mais conscientes da nossa jornada de vida.
Comecemos por entender o que é a criança interior. Trata-se da parte do nosso inconsciente individual onde estão guardadas as experiências emocionais da infância — sentimentos reprimidos, memórias e traumas. A criança interior ferida representa uma das faces da nossa sombra, ou seja, uma parte de nós que rejeitamos, reprimimos ou negamos: um fragmento da psique que sofreu dor ou falta de amor por parte de figuras importantes no início da nossa vida.
A cura interior passa precisamente pela integração desta criança. Consiste em trazer estas emoções esquecidas para a luz da consciência, reconhecê-las, aceitá-las e trabalhar com elas. Ao fazê-lo, recuperamos partes valiosas de nós mesmos que haviam sido rejeitadas, alcançando assim um maior equilíbrio emocional e psicológico.
Este caminho de integração conduz-nos ao que Carl Jung chamava de “eu completo” — um estado em que todas as partes da nossa psique, conscientes e inconscientes, coexistem de forma harmoniosa.
É importante compreender que este processo nem sempre é fácil. Muitas pessoas sentem medo ou tendem a retrair-se perante a ideia de iniciar um trabalho terapêutico de autoconhecimento. Este receio surge porque é necessário confrontar emoções reprimidas — emoções de dor que, no passado, não fomos capazes de processar.
O medo é natural quando ainda não desenvolvemos a maturidade e estrutura emocional necessária para lidar com essas emoções. Contudo, a verdadeira cura interior apenas acontece quando nos permitimos contactar com essas dores, acolhê-las e amá-las. Estas emoções são partes essenciais de quem somos e precisam ser reconhecidas para que possam finalmente ser curadas.
Curar a criança interior é, portanto, um gesto profundo de amor próprio. É um reencontro com partes de nós que clamam por aceitação e que, uma vez integradas, nos permitem viver de forma mais plena e consciente.
Importa ainda destacar que, quando uma pessoa não se permite entrar em contacto com a sua dor, essa energia reprimida tende a ser transmitida inconscientemente aos seus filhos. Este é mais um motivo poderoso para investirmos no nosso crescimento emocional e na cura interior.
Somos parte de uma corrente contínua, como um rio que atravessa gerações. Cabe-nos refletir: queremos que a água que flui para os nossos descendentes esteja contaminada pela dor que não curámos, ou desejamos oferecer-lhes uma água pura, onde possam beber saúde emocional?
A transformação começa em nós — e cada gesto de cura é uma contribuição preciosa para as próximas gerações.
Espero ter contribuído para clarificar este conceito e reforçar a importância de integrar estas vivências como um passo vital para a cura emocional e para a evolução pessoal.
Com carinho,
Patrícia
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